Controlo e Erradicação
A partir dos dados fornecidos pela monitorização, podemos identificar as áreas problemáticas e proceder ao controlo e erradicação dos bibliófagos.
1. Controlo
Para proceder ao controlo de pragas todas as áreas do edifício devem ser inspecionadas periodicamente. Em caso de suspeita da presença de pragas, deve solicitar-se a avaliação de profissionais especializados.
1.1 Procedimentos, periodicidade e plano de inspeção
Planta do edifício
A planta deve facilitar a visualização e confrontação dos dados obtidos, tornando-se numa importante ferramenta de avaliação contínua para o estudo e prevenção de infestações.
Ao observar a planta certifique-se de que identificou todos os locais onde estão colocados os detetores de insetos/roedores e estações de isco. Veja-se recomendações relativas à colocação dos detetores no capítulo anterior.
Tabelas de inspeção
A observação dos detetores deve iniciar-se nas áreas onde não exista suspeita de infestação e finalizar nas áreas infestadas, evitando contaminação entre zonas.
O registo das infestações detetadas poderá ser realizado através da criação de um mapa ou de uma tabela de inspeção, contendo a seguinte informação:
– Localização do detetor: estante, módulo, prateleira, número do volume (cota);
– Número do detetor;
– Presença de vestígios de pragas;
– Presença de insetos vivos (confirmação ou suspeita);
– Condição dos documentos vizinhos (confirmação ou suspeita);
– Data e responsável por esta ação;
– Campo de observações (por exemplo: tipo e número de insetos capturados).
Exemplo de tabela de inspeção
Desta forma é possível detetar os focos de infestação e observar, caso aconteça, a reincidência de infestações para posteriormente serem tomadas as medidas necessárias ao seu controlo.
Havendo suspeita de infestação os detetores devem ser colocados de 3 em 3 metros.
A substituição dos detetores depende dos seguintes fatores: do tipo de aparelho; da perda da sua capacidade adesiva e do odor; da quantidade de insetos presentes.
Responsáveis pelo controlo das pragas
Responsável interno
É necessário atribuir um colaborador responsável pela verificação do controlo integrado de pragas, de preferência um técnico com conhecimentos específicos sobre esta área.
Responsável externo
Sempre que possível e desejável, deve se contactar uma empresa especializada, com técnicos qualificados no controlo e erradicação de pragas.
Cabe ao responsável interno alertar a empresa sobre os fundos que detém e os materiais que os constituem, de jeito a que o tratamento previsto não cause qualquer tipo de dano à coleção nem à segurança do pessoal envolvido.
É fundamental que o responsável externo (empresa) seja supervisionado por um elemento da instituição, geralmente o responsável interno, a fim de gerir com eficácia o contrato estabelecido ou tarefas agendadas. Em caso de existência de contrato, devem ser mencionadas as espécies a eliminar/controlar, as etapas requeridas para os tratamentos e os prazos previstos para a concretização de cada fase. Também deverá existir um programa rigoroso de avaliação dos resultados obtidos e das inspeções realizadas.
2. Erradicação
Após confirmação da existência de uma infestação e determinação dos seus focos, terão de ser tomadas medidas de erradicação, sendo que a utilização de substâncias tóxicas deve ser encarada apenas como última alternativa.
A escolha dos tratamentos deverá depender da extensão dos danos, do tipo de praga presente, do material e do valor dos documentos. As desinfestações podem ser por anóxia ou outros tipos como a nebulização ou congelação (abaixo descritas em detalhe).
Sempre que for realizada uma desinfestação, esta deverá abranger não só os documentos infestados mas também aqueles que se encontram na sua proximidade, garantindo a extinção da praga.
Após os tratamentos de erradicação, é importante assegurar a eficácia dos mesmos, inspecionando os materiais desinfestados. Estes devem permanecer em observação num local de quarentena, longe dos documentos desinfestados.
2.1 Desinfestação por anoxia
A desinfestação por anóxia poderá utilizar compostos não nocivos ou gases tóxicos.
Relativamente aos compostos químicos, existe uma quantidade limitada de produtos utilizados como desinfestantes de documentos, nomeadamente os gases inócuos (árgon, azoto ou dióxido de carbono), que eliminam insetos, larvas e ovos. Estes não são nocivos ao ser humano, não deixam resíduos e não provocam danos nas coleções.
Por sua vez, os gases tóxicos suprimem unicamente as larvas e os insetos vivos. Se os ovos não forem extintos, a infestação irá surgir, repetidamente, quando se proporcionarem as condições favoráveis. Por este motivo, as desinfestações com gases tóxicos têm de ser efetuadas anualmente, o que coloca em risco a saúde de funcionários e utentes e o estado da própria documentação; ademais, na maioria dos casos, estes gases são nocivos para o meio ambiente.
Câmara de expurgo
Este equipamento foi criado para desinfestar documentos gráficos e outros materiais (mobiliário, talha, pintura, escultura).
A câmara de expurgo possibilita a eliminação de insetos, independentemente da sua fase de crescimento (ovos, larvas ou adultos), utilizando um método não tóxico e ecológico.
Este método de desinfestação não químico e não inflamável, não tem qualquer efeito nocivo no operador ou no objeto tratado (isto é, não altera as propriedades físico-químicas).
O processo origina a irradicação dos insetos por desidratação e asfixia, através da troca do ar atmosférico por um ambiente de baixo teor de oxigénio e consequente introdução de um gás inerte (árgon, azoto ou dióxido de carbono).
O equipamento possui um método de vácuo, que possibilita a aspiração do ar do interior do compartimento. Associando de forma intercalar a um período de pressurização com um gás inerte, o oxigénio no interior da câmara é reduzido, atingindo valores inferiores a 3000 ppm.
Este tratamento permite o manuseamento imediato dos objetos, não havendo vestígios de resíduos tóxicos sobre as superfícies após o processo de expurgo.
A única desvantagem está relacionada com o custo elevado do equipamento, sendo por vezes mais acessível o tratamento pontual com o sistema de “Bolha”.
Bolha
Consiste num método de desinfestação não tóxico e ecológico e serve sobretudo para necessidades pontuais de desinfestação, permitindo adaptar-se às dimensões dos objetos a desinfestar, sendo esta a sua principal vantagem.
O método da desinfestação por bolha resulta no isolamento do objeto a desinfestar, numa bolha de filme plástico, com alto grau de impenetrabilidade de oxigénio. Funciona através da extração do ar presente no seu interior, substituindo-o por um gás inerte (árgon, azoto ou dióxido de carbono). As pragas são erradicadas por asfixia e desidratação, independentemente do seu grau de desenvolvimento.
Esta técnica possibilita realizar os procedimentos nos locais de armazenamento das coleções, assim como permite tratar com a mesma eficiência objetos com variadas volumetrias e formas.
2.2 Outros tipos de desinfestação
Para além da desinfestação por anóxia (câmaras de expurgo e bolha), existem outros tipos de desinfestação utilizando produtos com os inseticidas, entre outros.
Os inseticidas têm uma ficha técnica relativa à composição do produto químico, bem como orientações para proteger o ser humano da contaminação. No entanto, é imperativo adotar medidas de segurança, pois o risco de alergias ou contaminação provocadas pelos produtos químicos é elevado.
Alguns produtos inseticidas requerem diluições. Quando tal for necessário, é extremamente importante o uso de equipamentos de proteção individual (óculos, luvas, máscara e botas), aconselhados no rótulo da embalagem do produto.
De seguida apresentamos outros métodos que podemos utilizar na desinfestação de documentos.
Congelação
Este método surge como alternativa aos tratamentos de fumigação (que recorrem a produtos químicos), mas requer alguns cuidados na sua utilização: os materiais devem ser embalados em bolsas hermeticamente seladas, que não devem ser sobrepostas; deve-se assegurar que os documentos não são danificados pelas baixas temperaturas e que a condensação no processo de descongelação é controlada.
O processo de congelamento rápido deve ser realizado a uma temperatura ambiente de – 30 ºC, durante 3 dias, – 25 ºC, em 7 dias ou -18ºC, ao longo de 14 dias, em que a maior parte dos insetos, independentemente do ciclo de vida, pode ser eliminada. Contudo, existem equipamentos que não permitem baixar rapidamente a temperatura, levando assim a que alguns insetos fiquem num estado de hibernação e sobrevivam.
O descongelamento requer cuidados específicos: o congelador deve ser desligado de maneira a que o descongelamento dos objetos seja gradual, com o propósito de controlar mais eficazmente os materiais suscetíveis de dilatação ou contração.
Nebulização
Esta forma de desinfestação distingue-se das restantes por se formar um nevoeiro composto por micropartículas. As partículas são de maiores dimensões que as do aerossol, garantindo assim a sua penetração nas fendas e, por serem pesadas, não ficam em suspensão no ar durante muito tempo. Após assentarem formam uma camada fina de água ou gordura nas superfícies.
Este método é utilizado sobretudo para a erradicação de insetos voadores.
Fumigação
Baseia-se na utilização de inseticidas (líquidos) que, uma vez em contacto com o ar se convertem em gás, erradicando as pragas através de asfixia. As partículas do gás possuem um tamanho que varia entre 0,001 e 0,1 µm, caracterizando-se por penetrar em poros muito pequenos.
Este método é o mais aplicado no controlo de insetos voadores e rasteiros.
Pulverização
Este tipo de desinfestação consiste na utilização de máquinas pulverizadoras, de produtos que possuem composições químicas específicas para cada caso.
A sua forma de aplicação caracteriza-se pela formação de partículas, cujas dimensões variam entre 100 e 400 µm. Consequentemente, a pulverização é muito usada no tratamento de pragas urbanas e nos tratamentos residuais em exteriores e interiores. Esta é a forma mais frequente de utilização de inseticidas para o controlo de pragas, pois erradica todos os tipos de insetos.
Aerossol
Carateriza-se sobretudo por uma neblina suspensa no ar, composta por partículas que variam entre 0,1 e 50 µm.
O inseticida, para ser facilmente aplicado, deve ser dissolvido num solvente volátil quando pressurizado. A ser usado desta forma deixa pouco resíduo superficial.
Iscos em Gel
Este método consiste na aplicação de gel, em poucas quantidades, com o auxílio de uma pistola doseadora, podendo demorar 30 dias até ao controlo efetivo da infestação.
As gotas de gel, que funcionam como isco, atraem baratas ou formigas até a distância de 1 m do seu ponto de aplicação, eliminando-as após ingestão do produto.
As gotas são introduzidas em pontos estratégicos, geralmente perto de equipamentos elétricos, onde as pragas se refugiam e aglomeram (cavidades e frestas).
O benefício deste método é que não necessita da interrupção dos hábitos diários, pois pode ser introduzido em espaços frequentados por pessoas ou animais e não possui cheiro incómodo.