1856-1857

Cólera-Morbus

Numa época em que a Madeira atravessava uma grave crise económica no sector agrícola, agravada por desastres naturais, não dispunha de saneamento básico, nem de cuidados de saúde ou de higiene mínimos, as doenças sazonais, endémicas e epidémicas encontravam o meio ideal para propagar-se, sobretudo nas camadas sociais onde prevalecia a miséria.

A cadeia de transmissão das epidemias iniciava-se, a partir do momento em que os tripulantes e/ou  passageiros (e respetivas bagagens), todos condutores de germes, estabeleciam contacto local. Foi o que aconteceu em 1856. A Madeira foi contaminada por uma cólera de caráter fulminante, que terá sido introduzida aquando do desembarque do Batalhão de Infantaria n.º 1, vindo de uma zona infetada de Lisboa.

Cólera

Infeção aguda do intestino delgado

Formas de apresentação clínica

Cólera morbus ou asiática

 Origem endémica

Ásia

Médio Oriente

África

América do Sul e Central

Causada por bactérias Gram-negativas: 

Vibrão colérico – Vibrio cholerae (Robert Koch)

 As bactérias segregam uma toxina que provoca:

Diarreia aquosa

Desidratação

Redução expressiva do volume de urina eliminado

Colapso circulatório.

Contágio:

Ingestão de alimentos ou água contaminados

Marisco, frutas e vegetais crus

Tratamento atual:

Reposição imediata dos fluídos e sais

Reposição intravenosa com antibióticos

Ingestão de soluções de reidrata

28 junho 1856 – Desembarque do Batalhão de Infantaria n.º 1 de Lisboa.

4 julho – Surgiram os primeiros casos de cólera no meio militar.

7 julho – Primeira vítima local – barqueiro que ajudou no transporte dos militares e respetivas bagagens.

Em menos de um mês a cólera alastrou-se por toda a ilha.

N.º de vítimas: 7.041 – 10.000

Contributos dos Governantes no Combate à Epidemia

Governador Civil o Distrito do Funchal e Comandante Militar da Madeira (1856-1857)

Natural de Elvas (1807-1862)

Formado em matemática – Universidade de Coimbra

Lente da Academia Politécnica do Porto

Ministro da Guerra -1859

Contributos

Construção de “hospitais” nos concelhos dos distritos

Campanhas sociais

Solicitação de subsídios

Administrador do Concelho do Funchal (1856)

Natural de Vila Franca de Xira

Formado em Direito

Jornalista

Escritor

Historiador

Contributo

Organização das “Sopas económicas”

Imprensa Regional

A imprensa regional teve um papel significativo, não só no que diz respeito à divulgação de medidas preventivas e terapêuticas de combate à epidemia, mas também nos alertas lançados às autoridades para empreender melhorias no estado sanitário da região e ainda na divulgação das decisões tomadas em prol dos mais necessitados.
Destacamos alguns jornais:

O Clamor Público

N.º 113 – 14 julho 1856, pp. 1-1 v.º- Comunica uma série de informações acerca do estado de salubridade de alguns locais da ilha (dentro e fora do concelho) e solicita a intervenção sanitária das autoridades responsáveis.

A Discussão

N.º 75 – 24 julho 1856, p.1– Elogia a decisão da Câmara Municipal em dotar de meios o Administrador do Concelho do Funchal para estabelecer a “Sopa económica” – vista como uma das soluções para combater a epidemia (a fome origina e desenvolve epidemias). Nomeiam-se os benfeitores que contribuíram monetariamente para várias formas de subsistência social e para a sopa económica.

A Ordem

N.º 1 – 11 outubro 1856, p. 1 – Indica a celeridade das autoridades públicas ao tomarem providências nas freguesias sem recursos para combater a cólera; assinala o dia 4 de julho como a data em que a cólera se manifestou na Madeira (desembarque do Batalhão de Infantaria n.º 1, menciona as medidas sanitárias e filantrópicas, adotadas pelo Governador Civil Couceiro – criação de “hospitais” nos concelhos dos distritos, e as campanhas para arrecadar esmolas e obter subsídios.

Semanário Official

N.º 129-10 janeiro 1857, pp. 2 e 2 v.º – Divulgam-se os números oficiais das vítimas da pandemia entre 5 de julho e 31 de outubro de 1857, apresentados pelo Governador Civil Brigadeiro Couceiro.

Apontamentos

De 31-07-1856 a 01-08-1856 – Sepultaram-se mais de 300 cadáveres no Cemitério das Angústias (atual Parque Santa Catarina)