1910-1911

Cólera

A prova bacteriológica que faltava para confirmar o reaparecimento de um novo surto de cólera na Madeira, em 1910, foi constatada pelo Dr. Carlos França e os seus auxiliares.

Destacado pelo Ministro do Interior para assumir o cargo de Diretor dos Serviços Sanitários da Madeira, durante a pandemia, o Dr. França e a sua equipa estabeleceram uma organização sanitária modelar que previa dotar a cidade e a população de meios de combate e prevenção à epidemia e de defesa sanitária [1] .

Tendo-se revelado eficazes, o conjunto de medidas aplicadas explicariam o número relativamente baixo de óbitos e a rápida erradicação da cólera.

Os serviços sanitários, contudo, tiveram de enfrentar as mesmas circunstâncias sociais do passado: obstinação e desconfiança do povo no cumprimento das regras sanitárias, a sonegação de casos, a descrença na epidemia, vendo nela uma exploração política.

Faleceram 556 habitantes.

[1] O Plano de Organização Sanitária foi publicado em folheto com a designação de: Serviços Sanitários do Funchal – Medidas de combate contra a cholera na Madeira, e distribuído em diferentes zonas infetadas.

05 de setembro – Paquete Araguaya chega ao Funchal.

26-27 setembro – Contágio de uma criada, vizinha do homem que recebia as roupas sujas dos vapores que chegavam ao Funchal.  As roupas eram distribuídas pelas lavadeiras[1]. Eram lavadas na ribeira que abastecia os sítios onde se manifestaram os primeiros casos.

20 de outubro – Leonilda de Andrade (Sítio do Paiol) de 18 anos queixou-se de dores de cabeça, calafrios e vómitos no trabalho.

23 de outubro – adoecia a irmã, Felisberta d’ Andrade, com os mesmos sintomas de Leonilda.

Três autoridades sanitárias deslocaram-se à casa daquela família, a fim de diagnosticar a doença.

Depois do Paiol, registaram-se casos na Rua D. Imperatriz Dona Amélia, que depois se espalharam pelo Funchal, e Câmara de Lobos, Machico, Porto Santo, Ponta de Sol, Santa Cruz e Calheta.

N.º vítimas:  1750

[1] Os bomboteiros que negociavam dentro dos barcos eram também “portadores” da bactéria.

Contributos no combate à epidemia

Contributo

Criação de cozinhas económicas.

 

Manuel Augusto Martins

Governador Civil do Distrito do Funchal

Natural do Funchal (1867-1936)

Em 1907, fundou o jornal O Povo

Licenciado em Direito

Presidente da Comissão Republicana do Concelho do Funchal

Inaugurou a rede telefónica e a sede do Diário de Notícias

 

 

 

Contributos

Criação e organização dos Serviços Sanitários do Funchal.

Planeamento e execução de um plano, simultaneamente, de ataque e de prevenção da epidemia.

 

Dr. Carlos França

Diretor dos Serviços Sanitários da Madeira durante a epidemia

Natural de Torres Vedras (1877-1926)

Bacteriologista

Em 1899 – Combate, com Câmara Pestana, a peste na cidade do Porto

Capitão, médico do exército

Chefiou, em França, a Secção de Higiene e Bacteriologia durante a 1.ª Grande Guerra

Imprensa Regional

Os jornais continuavam a ter um contributo importante na divulgação de medidas de higiene individual e sanitária, sem deixar de fazer advertências ao comportamento ignorante de alguns cidadãos.

Brado D’Oeste (jornal da Ponta de Sol)

N.º 163 – 21 dezembro 1910, p. 1 – Com o título “Propaganda Criminosa” – Revela que, no imaginário do povo, o Dr. Balbino andava (na Madeira) a contaminar a água com pó, a fim de provocar a cólera. Critica a manipulação exercida pelos difamadores nas “massas populares” quando desprezam as regras sanitárias. Destaca as ações do Governador Civil.

Correio da Tarde

N.º 1285 – 02 dezembro 1910, p. 1Como se evita e se combate a cholera,” segundo o professor Metchnikoff do Instituto Pasteur, (artigo que continua nas publicações seguintes); Cholera na Madeira”refere o preconceito do povo madeirense acerca das medidas adotadas para tratar a cólera.

 

N.º 1287 – 07 dezembro 1910, p. 1 – “A Hygiene no Funchal”- Aponta o dedo ao desleixo da higiene pessoal e habitacional, critica o comportamento dos incumpridores e exemplifica os cuidados básicos a ter no quotidiano.

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Apontamentos

  • 09 de dezembro de 1910 – A Madeira atinge o auge dos casos diários – 79.
  • 1910-1911 – Observaram-se todos os sintomas da doença (desde os mais leves, até aos mais fulminantes), o que significa que ocorreram os dois tipos de cólera.
  • Às fezes e aos vómitos misturava-se sulfato de cobre ou leite de cal, a fim de evitar o contato e propagação da bactéria com a terra, água….
  • 06 de fevereiro de 1911 – Registou-se o último caso de cólera.

Informação Complementar

FRANÇA, Carlos, 1911, A epidemia Cholerica da Madeira 1910-1911 Relatório apresentado ao Ministério do Interior por Carlos França, Capitão médico do exército Diretor dos Serviços Sanitários da Madeira durante a epidemia, Lisboa, Typographia Universal.
FERREIRA, Bttencourt, 1911, “A cólera na Madeira (Notas Ligeiras)” - Separata do 5.º ano da Gazeta dos Hospitaes do Porto, Porto, Typographia a Vapor da Encyclopedia Portugueza.