ABM disponibiliza primeiros volumes do Registo Geral do Funchal

Assinalando o Dia Internacional dos Arquivos (9 de junho de 2020) o Arquivo e Biblioteca da Madeira (ABM) disponibiliza as descrições das centenas de documentos que compõem os primeiros volumes do Registo Geral deste município, com ligação às respetivas réplicas digitais.

Nos livros do Registo Geral tresladavam-se – para uso do poder municipal e memória futura – muitos dos mais relevantes documentos que chegavam à ilha, pelo que esta é uma série documental de especial importância para o estudo da história da Madeira e até dos primeiros passos da Expansão portuguesa. Com efeito, estes livros integram registos de documentos que remontam ao povoamento da Madeira.

O primeiro livro desta série é o chamado “tomo velho”, cuja composição, claramente menos metódica e diligente do que a que se verifica nos tomos seguintes, principia na segunda metade do século XV. Mas será o tomo I que se destaca em toda a série documental, pela importância dos documentos objeto de treslado e também pelo zelo do copista, bem patente na qualidade da escrita e da ornamentação de vários fólios; foi esse copista frei Diogo de Medina, monge da Ordem de São Bento, incumbido por determinação de D. Manuel I – como nos lembra Francisco de Sousa Melo na introdução às suas transcrições deste tomo – de “compilar e escrever (…) a grande disformidade de papéis e cartas e privilégios muitos por antiguidade rotos e mal tratados”. É este trabalho de transcrição de Sousa Melo, verdadeiro divulgador e continuador, em pleno século XX, da empresa de Diogo de Medina, que agora se utiliza como base das descrições do tomo I. Nos tomos seguintes adota-se idêntico critério de descrição até ao nível do documento simples, associando-se as imagens de cada documento à respetiva descrição, num total de 1671 registos e cerca de 3 mil ficheiros.

“Carta del-rei, nosso senhor, em que faz cidade a este Funchal”

 

TRANSCRIÇÃO

Carta del-rei nosso senhor em que faz cidade a este Funchal 

Dom Manuel por graça de Deus rei de Portugal e dos algarves daquém e dalém mar em África Senhor de Guiné e da conquista navegação e comércio de Etiópia Arábia Pérsia e da Índia. A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que considerando nós como louvores a nosso senhor a vila do Funchal da nossa ilha da Madeira tem crescido em muito grande povoação e como vivem nela muitos fidalgos cavaleiros e pessoas honradas e de grandes fazendas pelas quais e pelo grande trato da dita ilha esperamos com ajuda dnosso senhor que a dita vila muito mais se enobreça e acrescente e havendo respeito ao muito serviço que recebemos dos moradores e esperamos adiante receber e de si por folgarmos de fazer honra e mercê aos ditos fidalgos cavaleiros escudeiros e povo dela sem eles nem outrem por eles nos pedir nem requerer nós de nosso modo próprio poder real e absoluto com aquela boa vontade que sempre tivemos e temos para todo o bem e maior acrescentamento das coisas da dita vila. 

Por esta presente carta nos praz a fazermos e de feito fazemos cidade e queremos e nos praz que daqui em diante se intitule e chame cidade e tenha todas as insígnias que àcidades de nossos reinos pertence ter e use e goze de todos os privilégios preeminências liberdades mercês graças franquias de que gozem e usam e devem de gozar e usar as cidades dos ditos nossos reinos e que pelos reis nossos antecessores e por nós lhe são outorgados porém o notificamos assim a todos em geral e mandamos a todos os nossos corregedores desembargadores juízes justiças oficiais e pessoas a que esta nossa carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer por qualquer forma e maneira que seja que em todas as coisas da dita cidade lhe cumpram e guardem e façam muito inteiramente cumprir e guardar os privilégios liberdades graças preeminências honras e mercês que são outorgadas à cidade de nossos reinoe de que elas devem gozar usar das insígnias que lhe pertencem ter como dito e sem lhe irem nem consentirem ir em parte nem em todo contra coisa alguma das sobreditas por que nossa mercê e vontade é que mui inteiramente lhe seja todo guardado e sem contradição alguma e por certidão dele lhe mandamos dar esta carta por nós assinada e selada de nosso selo pendente dada em Sintra XXI dias do mês de agosto ano de nosso senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e oito. Estes privilégios de que assim nos praz que goze a dita cidade do Funchal não serão aqueles que em especial são outorgados a algumas cidades de nossos reinos por que somente usaram e gozaram daqueles que em geral são dados e outorgados às cidades de nossos reinos. El Rei.