Na Madeira
O cinema era esperado com alguma impaciência e curiosidade. O Diário de Noticias de 14 de janeiro de 1897, na página 2, referia que o animatógrafo, invento então atribuído a Edison, atraía grande afluência de público aos teatros da capital, esperando-se, para breve, a chegada ao Funchal destes novíssimos espetáculos. O cinematógrafo era entendido como uma diversão que veio quebrar a monotonia das noites de Inverno funchalense (3).
João Anacleto Rodrigues (1869-1948)
Os irmãos Henrique Augusto e João Anacleto Rodrigues, donos e fundadores do estabelecimento comercial Bazar do Povo, eram também os proprietários do primeiro animatógrafo que figurou no Funchal, conforme nos indicam O Diario do Commercio e o Diario de Noticias. Estes jornais referiam Henrique Augusto como sendo o proprietário do animatógrafo, adquirido em Paris, e quem o despachou na alfândega do Funchal (4). Simultaneamente, elogiavam-no porque “ (…) acertou com a escolha d’uma diversão, que satisfaz plenamente o publico funchalense, mandando vir o Animatographo (…) (5). Paralelamente, a imprensa regional indicava o seu irmão, João Anacleto, como sendo o responsável pelas primeiras exibições de animatógrafo na cidade. Ideia esta, aliás, defendida durante muito tempo. Embora João Anacleto Rodrigues possa ter sido determinante neste acontecimento, é incontestável a importância e o papel do seu irmão Henrique, ignorado até à data.
Antes da primeira sessão pública ocorreram vários ensaios com o animatógrafo, como nos indica o Diario de Noticias do dia 7 de Maio: “No theatro de «D. Maria Pia» continuam as experiencias com o animatographo mandado vir pelo proprietario do Bazar do Povo. Em breve haverá uma sessão especial para a imprensa”. E assim foi, no dia 12 de Maio de 1897, à noite, teve lugar no Teatro D. Maria Pia um ensaio de animatógrafo, ao qual os elementos de O Diario do Commercio (6) assistiram e ficaram “ (…) realmente maravilhados”. Considerando o aparelho, mandado vir de Paris por Henrique Augusto Rodrigues, excelente.
Teatro D. Maria Pia (local da primeira exibição de animatógrafo a 15 de maio de 1897)
O Diário de Notícias e O Diario do Commercio, nos dias 13 e 14 de maio, bem como o Correio do Funchal, de 14 de maio, divulgaram o espetáculo do sábado seguinte, a primeira exibição pública de animatógrafo no Funchal. Os jornais garantiam ser a ocasião dos funchalenses admirarem uma verdadeira maravilha, que segundo estes encantava os olhos e deliciava o espírito. Aconselhavam o público a experimentar e garantiam que lhes ia agradar.
O programa das sessões de sábado, domingo e segunda-feira, publicado nos jornais referidos, era composto por doze curtas-metragens, registos documentais no formato Joly-Normandin (Vide Glossário) concorrente do formato Lumière (Vide Glossário).
O espetáculo começou às vinte horas e trinta minutos, mas a entrada dos espetadores deveria efectuar-se meia hora antes o que dava, certamente, um carácter cerimonioso à sessão.
Programa da primeira exibição de Animatógrafo no Funchal