Isabel Amália Eugénia da Baviera casou em 1854, aos 16 anos, com o imperador Francisco José I.
Na infância teve uma educação informal e era chamada carinhosamente de “Sissi”. No entanto, jamais na corte a tratavam assim.
O casamento fê-la enfrentar uma vida na corte dos Habsburgo para a qual não estava preparada. Teve de adaptar-se ao rígido protocolo e às formalidades exigidas a uma imperatriz. Em pouco tempo começou a apresentar problemas de saúde.

Imperatriz Isabel da Áustria, 1867
Emil Rebending, Domínio Público, via Wikimedia Commons.

A fragilidade da saúde de Isabel

«[Em 1860] a jovem sobreana encontra-se submersa num estado de agitação crónica. Os três partos, as emoções da guerra e as tensões que sofre no seio da Corte acabam por lhe destroçar os nervos. […] A sua saúde começa rapidamente a ser motivo de preocupação para os mais chegados. Sofre frequentemente de vertigens, náuseas e fadiga, assim como de febre, isónias e apatia […].» (HABSBURGO, 2008, p. 73)

A influência de Maximiliano

«Chegado a Viena, o jovem brilhante Habsburgo encantou toda a família imperial com as suas impressões e com as suas poéticas descrições da ilha. Com estas suas dissertações, contaminou sobretudo a cunhada, a igualmente romântica Imperatriz.» (BRAGANÇA, 2011)

A Madeira como destino terapêutico

«[…] a Madeira foi, desde o século XVII, ponto de passagem ou estadia de inúmeros viajantes europeus, a maioria deles britânicos. Do relato de viagem à obra de natureza científica, sobre ela se produziu uma abundante literatura que viria a promovê-la como importante estância de cura para as doenças pulmonares. A amenidade do clima, com reduzidas amplitudes térmicas, contribuiu também para essa promoção.» p. 13 (MATOS, 2013)

A viagem

Sob prescrição médica, e com o apoio do marido, partiu numa viagem de recuperação que teria como primeiro destino a Madeira. A frota austríaca, monopolizada pela guerra, não estava disponível para transportar a Imperatriz. Sabendo do estado de saúde de Isabel, a Rainha Vitória emprestou dois dos seus iates (Victoria & Albert e Osborne), colocou à disposição o pessoal de bordo e forneceu os mantimentos, tudo para que se pudesse realizar a jornada.

Preparativos

«O secretário, senhor Bayer, havia sido enviado algumas semanas antes para o Funchal, para realizar todos os preparativos para a chegada e a instalação da imperial comitiva.» (BRAGANÇA, 2011, p. 78)

Ficariam instalados na Quinta Vigia «propriedade da família Davies que, pelo “sacrifício” de ceder temporariamente o imóvel, pediu a soma astronómica de 2000 reis ao mês». (BRAGANÇA, 2011, p. 81)

A Quinta Vigia

«A Quinta Vigia [foi] demolida juntamente com as quintas Pavão e Bianchi para dar lugar ao Casino Park Hotel. […] A sua construção, em 1849, ficou a dever-se a Richard Davies, um comerciante britânico. Tal como a Quinta de Nossa Senhora das Angústias, a sua localização privilegiada fazia dela uma das mais apetecidas quintas de aluguer do Funchal.»  (MATOS, 2013, p. 100)

As quintas de aluguer

«Na Madeira, as quintas de aluguer desempenharam, nesse período, um importante papel: foram elas que acolheram os primeiros fluxos humanos constituídos pelos enfermos que se deslocavam em cura de ares. Ao contrário do turista contemporâneo, estes viajantes permaneciam na ilha por longas temporadas – uma estação, normalmente o Inverno – instalados numa quinta.» (MATOS, 2013, p. 14)

Unidades para alugar no Funchal em 1885, de acordo com o guia de James Johnson.

1860

A Chegada

29 de novembro

«Finalmente se avistou o arquipélago. Era um dia coberto e com uma brisa amena. Os dois navios entraram na enseada do Funchal, era o dia 29 de Novembro de 1860. […] Já se via aproximar uma primeira chalupa, que trazia para bordo o Comandante do Porto, Capitão Joaquim Pedro de Castelo Branco. Numa segunda lancha, vinha o Cônsul da Áustria, o Barão Bianchi.
A Imperatriz mandou dizer que receberia a bordo, às 9h30, o Governador Civil, o Bispo e o Comandante Militar, e as demais autoridades, e que desejava deixar o navio às 10 horas.
Na verdade, uma faustosa recepção havia sido preparada.
Às 10 em ponto, Sissi, desembarcava no porto da Pontinha, saudada por mais personalidades e ovacionada pela população, ansiosa de vê-la.
Os canhões dispararam salvas, devidas a um Chefe de Estado, e foguetes também anunciavam o grande evento. […] Realmente, na porta da Quinta, estava, para apresentar as boas vindas, o Presidente do Conselho do Funchal, os Vereadores com os chefes dos vários departamentos. A esta altura, a Imperatriz devia estar comovida, havia passado no caminho por diversos arcos com flores e folhagens, a plaudindo a sua vinda. Na entrada da Quinta, uma maré de flores e a bandeira imperial flutuava no ponto mais alto do edifício. […] À noite, uma banda militar entoou várias músicas e marchas. Em seguida, esta marchou até à Quinta Vigia, onde entoou o hino imperial austríaco: “Deus salve o imperador…”, composto por José Haydn.» (BRAGANÇA, p. 80)

O Funchalense, 5 de dezembro de 1860.

Vida social pouco apelativa

«A vida social no Funchal era extremamente limitada. De vez em quando, algum navio de guerra entrava no porto da Pontinha e os oficiais eram convidados para um chá. Foi o caso de um navio imperial russo, comandado por um almirante. A Imperatriz mandou convidá-lo, conjuntamente com os oficiais mais graduados, para um jantar com dança. Ela notava que as suas Damas se estavam enfadando, e assim decidiu enviar um convite, que resultou num dos momentos alegres da estadia, conforme o Almirante mais tarde relatou.» (BRAGANÇA, 2011, p. 82)

O Natal

«O Natal estava-se aproximando e a melaconlia de Sissi devia estar no auge. Os filhos, o marido, os pais e a vasta irmandade deviam faltar-lhe! Mas veio a surpresa. Inesperadamente, chegou o Conde Nobili, trazendo directamente de Viena uma linda árvore de Natal […].» (Bragança, p. 82)

No dia 24 de Dezembro, Isabel festejou o seu 23º aniversário. A imprensa informa erradamente que celebra 24 anos de vida.

O Direito, 22 de dezembro.

Fascínio pelos instrumentos tradicionais

«Mandou comprar um cavaquinho [braguinha] e quis aprender a tocá-lo, entoando canções madeirenses em companhia das suas damas. Gostou tanto que até se fez retratar com ar feliz com o típico instrumento musical madeirense. […] Sissi escrevia à pequena Gisela [filha], prometendo trazer uma gaiola com lindos pequenos pássaros e também uma guitarra (machete).» (BRAGANÇA, 2011, p.83)

Vicente Gomes da Silva, prestigiado fotógrafo

«Mandou, então, chamar o já bem conhecido fotógrafo do Funchal, Vicente Gomes da Silva, que, pela sua habilidade e conhecimentos técnicos, faria história, tendo criado o primeiro  estúdio fotográfico de Portugal. Vicente retratou Sissi no meio das jovens damas, numa eufórica posição, endossando todos os típicos hábitos madeirenses.» (BRAGANÇA, 2011, p. 83)

Reprodução de uma fotografia da autoria de Vicente Gomes da Silva, Sénior (1827-1906), tirada nos jardins da Quinta Vigia (atual espaço do Pestana Casino Park Hotel).Ao centro: imperatriz Elizabeth D’ Áustria com uma braguinha na mão; sentada à frente: princesa Helena de Taxis; de pé à direita: princesa Mathilde Windischgraetz; de pé à esquerda: condessa Lily Hunyady.

A Páscoa

«Chegou a Páscoa e mais uma vez estava longe da família. Mas a saudade melhorava, e começava a escrever ao General Grunne, ajudante do Imperador, pedindo notícias dos seus cavalos preferidos, dizendo também quanto lhe faziam falta.» (BRAGANÇA, 2011, p. 84)

Despedida

«Deixou muitas esmolas para os pobres, presenteou o vigário da Sé e recebeu e agradeceu às personalidades da ilha, que haviam zelado para tornar agradável a sua permanência. Distribuiu condecorações […].
Poucos dias antes da partida, chegou o Príncipe real Dom Luís para apresentar as homenagens por parte do rei Dom Pedro V e da Rainha Dona Estefânia. Dom Luís acompanharia a Imperatriz até Gibraltar.» (BRAGANÇA, 2011, p. 84)

1893

Regresso ao Funchal

«Era em fins de Dezembro. Passou o Natal e o seu 56º aniversário na Madeira, como o havia passado 33 anos antes na Quinta Vigia. Desta vez, em absoluto incógnito, com uma pequena comitiva. Hospedou-se no Hotel Reid’s, que tinha acabado de ser inaugurado. […] No começo de Fevereiro, Sissi deixou o Funchal e viajou para a ilha de Maiorca […].» (BRAGANÇA, 2011, p. 85)

Diário de Notícias, 24 de dezembro.

A imperatriz viajava como Condessa de Hohenems. No entanto, os seus passos eram seguidos e relatados pela imprensa local.

Diário de Notícias, 13 de janeiro.

Identificada na lista de hóspedes do Reid’s.

Aniversário

Isabel passou o seu 56.º aniversário na Madeira.

Diário de Notícias, 24 de dezembro.

Diário de Notícias, 29 de dezembro.

Diário de Notícias, 31 de dezembro.

Diário de Notícias, 3 de janeiro.

Despedida

Isabel deixa a Madeira, um destino ao qual não voltará.

Em 1898 será mortalmente ferida por um anarquista italiano.

Diário de Notícias, 6 de fevereiro de 1894.

Referências

BRAGANÇA, Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e, 2011, «Uma visitante ilustre na Madeira: Sissi, a Imperatriz da Áustria (1860/61 - 1893/94)» in Islenha, N.º 49, pp. 75-85.

HABSBURGO, Catalina, 2008, Sissi: a atormentada vida da Imperatriz Isabel, Lisboa, A Esfera dos Livros.

VIEIRA, Alberto, 2008, «A história do turismo na Madeira: alguns dados para uma breve reflexao», in Turismo Revista de Estudios de Turismo de Canarias Y Macaronesia.

WILHELM, Eberhard Axel, 1996, «Sissi no Funchal (1860-1861)», in Margem 2, Nº 4, pp. 24-30.

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