Fiama Hasse Pais Brandão (1939-2007)

Fiama Hasse Pais Brandão foi poetisa, dramaturga, ficcionista, ensaísta e tradutora. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e o seu nome costuma ser associado ao grupo Poesia 61. Ao lado de Gastão Cruz, com quem foi casada, foi uma das responsáveis pela Antologia de Poesia Universitária (1964). Colaborou ao longo de décadas em inúmeras revistas literárias, escreveu peças de teatro e traduziu, entre outras, obras de Brecht, Artaud e Novalis. Da sua produção ensaística, destaca-se O Labirinto Camoniano e Outros Labirintos (1985), sobre a influência cabalística em diversos autores portugueses dos séculos XVI a XVIII. Viu algumas das suas obras censuradas pela PIDE: O Testamento (1962), O Museu (1962), A Campanha, O Golpe de Estado e Auto da Família (1965), e Quem move as árvores (1970). Traduzida em vários idiomas e representada na generalidade das antologias de poesia, Fiama recebeu os mais importantes prémios literários portugueses. Em 1996 foi premiada com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, e em 2001 foi distinguida com o prémio literário do P.E.N. Clube Português, pelo livro Cenas Vivas.

A peça inicia com um casal, de uma classe social privilegiada, que vai ao teatro assistir a O Testamento. Entretanto, durante o espetáculo ouvem: «Vamos gritar enquanto é tempo, enquanto o Poder se distrai, por instantes, em espectáculos e em prazer, enquanto o Poder se senta em plateias e nos esquece. Vamos aproveitar para dizer qualquer coisa fora de portas. Vamos gritar de encontro às portas». Nesta obra a autora, propositadamente, confunde vida e ficção, transmitindo uma mensagem política bastante visível. A riqueza é poder e, neste caso, o poder está distraído a ver uma peça de teatro, permitindo ao povo organizar-se em defesa da sua libertação.

«Começámos enfim a gritar por todas as ruas. A nossa força é a da justiça. É a força das mãos e dos corpos. Agora começámos a marcha e não há obstáculos contra o nosso corpo. A luta é feita com as nossas mãos.»
(BRANDÃO, 1962, p. 39)

A censura da obra

Publicada em dezembro de 1962, a obra O Testamento foi proibida em setembro de 1963, tendo assim persistido quase um ano longe da censura. Não há, nem nos registos da Torre do Tombo, nem no ficheiro da PIDE relativo à autora, qualquer nota ou relatório com os motivos da proibição. No entanto, a mensagem política e ideológica é bastante evidente e a censura não podia deixar passar uma obra que afrontava a moral oficial.

Referências

BRANDÃO, Fiama Hasse Pais, 1962, O Testamento, Lisboa, Portugália.
INSTITUTO PORTUGUÊS DO LIVRO E DAS BIBLIOTECAS, 2001, Dicionário cronológico de autores portugueses, Mem Martins, Europa-América.
PEDROSA, Ana Bárbara Martins, 2017, Escritoras portuguesas e Estado Novo: as obras que a ditadura tentou apagar da vida pública, Tese de Doutoramento em Ciências Humanas, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina.
PEDROSA, Ana Bárbara, 2019, «Do zeitgeist às prateleiras – as obras das autoras portuguesas censuradas», in Anuário de Literatura, n.º 2, vol. 24, Florianópolis, pp. 116-134.