Maria Teresa Horta (1937- )

Poetisa, ficcionista e jornalista, nasceu em 1937. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo pertencido ao grupo de Poesia 61 e colaborado em diversos jornais e revistas. Com dezoito anos, Maria Teresa Horta tornou-se na primeira mulher a dirigir um cineclube português, o Cine-clube ABC, em Lisboa. Estreou-se com o livro de poesia Espelho Inicial (1960), mas dedicou-se igualmente à ficção, tendo publicado, entre outros títulos, Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970). Em 1972 foi uma das autoras das polémicas Novas Cartas Portuguesas (com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno), obra que suscitou um processo judicial pela sua natureza transgressora em relação à tradição patriarcal dominante. Foi distinguida como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2004. O seu romance As Luzes de Leonor (2011) venceu o Prémio Literário D. Dinis, instituído pela Fundação da Casa de Mateus. Mais recentemente, venceu o prémio literário Correntes d’Escritas 2021 com Estranhezas.

A obra é composta por cinquenta e nove poemas sob a forma poética das cantigas de amigo medievais. A autora desafia o cânone literário e coloca a mulher como sujeito poético efetivo, alterando a relação entre os sexos e dando à mulher um tom imperativo e de comando da ação, desafiando o poder patriarcal instituído pelo Estado Novo.

A censura da obra

Maria Teresa Horta estava sob a vigilância da polícia política e constava dos seus ficheiros desde 1967. Minha Senhora de Mim foi publicada com o apoio de Snu Abecassis que então dirigia a Dom Quixote. Snu foi chamada à PIDE, onde recebeu a ameaça de encerramento da editora, caso voltasse a publicar obras de Maria Teresa Horta. Para além disso, a autora foi pessoalmente perseguida pela publicação desta obra, tendo sido, inclusivamente, espancada por três homens, na rua.

«A poesia de Maria Teresa Horta, iniciada em plena ditadura salazarista, é mais do que poesia de resistência. É uma poesia de avanço. Não se limita a resistir ao patriarcado, confinando-se a uma bandeira num canto. Pelo contrário, desafia-o e traz no desafio a ameaça da sua extinção. Assim, a poesia erótica de Maria Teresa Horta afronta o patriarcado e a moral do fascismo – a mulher é dona de si, procura a independência, não se sujeita à mão do homem.»
(PEDROSA, 2017, p. 348)

Minha Senhora de Mim assinalou uma viragem na escrita feminina contemporânea e integra atualmente o Plano Nacional de Leitura.

Referências

INSTITUTO PORTUGUÊS DO LIVRO E DAS BIBLIOTECAS, 2001, Dicionário cronológico de autores portugueses, Mem Martins, Europa-América.
PEDROSA, Ana Bárbara Martins, 2017, Escritoras portuguesas e Estado Novo: as obras que a ditadura tentou apagar da vida pública, Tese de Doutoramento em Ciências Humanas, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina.
PEDROSA, Ana Bárbara, 2019, «Do zeitgeist às prateleiras – as obras das autoras portuguesas censuradas», in Anuário de Literatura, n.º 2, vol. 24, Florianópolis, pp. 116-134.