Natália Correia (1923-1993)
Natália de Oliveira Correia nasceu na Ilha de São Miguel, Açores. Foi uma das personalidades mais destacadas da cultura portuguesa da segunda metade do século XX. Poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora, tornou-se conhecida na imprensa escrita e, sobretudo, na televisão.
Em diversas ocasiões tomou parte ativa nos movimentos de oposição antifascista, tendo participado no Movimento de Unidade Democrática (1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do General Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (1969). Durante a ditadura foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação de Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1966), e processada pela responsabilidade editorial de Novas Cartas Portuguesas (1972). Depois da revolução do 25 de Abril de 1974, apoiou a Frente de Libertação Açoriana e escreveu a letra para o hino dos Açores. Foi diretora das publicações Século-Hoje e Vida Mundial, e consultora para os Assuntos Culturais Internos da Secretaria de Estado da Cultura (1977). Exerceu também funções como deputada pelo Partido Socialista à Assembleia da República, entre 1980 e 1991.
Natália Correia recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos. No mesmo ano foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, sendo já detentora da Ordem de Santiago.
O Vinho e a Lira, edição de Fernando Ribeiro de Mello, é uma obra composta por 43 poemas. Foi o quarto livro de Natália Correia a ser censurado.
A censura da obra
A obra foi proibida, por despacho da PIDE, no dia 6 de junho de 1966. À data, Natália Correia contava já com outras obras censuradas e, portanto, estava sob o olhar atento do Estado Novo.
O seu conteúdo não era suficientemente impróprio para ser alvo de censura. No entanto, está presente nas páginas iniciais da obra um anúncio a outros livros da editora, esses sim mais “censuráveis”, como o Kama Sutra, a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica e A Filosofia na Alcova.
Referências
AZEVEDO, Cândido de, 1997, Mutiladas e Proibidas. Para a história da censura literária em Portugal nos tempos do Estado Novo, Porto, Caminho.
CLÍMACO, Nita, 1964, Falsos preconceitos, Lisboa, Paris, Edição da autora.
PEDROSA, Ana Bárbara Martins, 2017, Escritoras portuguesas e Estado Novo: as obras que a ditadura tentou apagar da vida pública, Tese de Doutoramento em Ciências Humanas, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina.