Maria da Glória

Maria da Glória é uma escritora praticamente desconhecida. Nos arquivos da PIDE não foi localizado um processo com o seu nome, o que impossibilita o acesso ao relatório que justifica a proibição da sua obra. A autora consta apenas nas listas de obras censuradas durante o regime do Estado Novo.

Este romance acompanha a vida de Maria, uma criança que vive numa aldeia e inicia amizade com Carlos, com quem descobre a sexualidade. Entretanto, o percurso de vida de ambos diverge e separam-se. Anos mais tarde, voltam a encontrar-se.

«Aquela mania de possuir todas as mulheres que lhe agradassem tinha de acabar.
Nunca ele julgara ser capaz de, ao fim de seis meses de lua de verdadeiro mel, atraiçoar a mulher com uma bailarina de ballet. Depois dessa, muitas outras, e, no fim de contas, que mais podia desejar?»
(GLÓRIA, 1962, p. 149)

A censura da obra

Tendo em conta que não há um relatório de censura, não é possível saber, oficialmente, o que motivou a proibição da obra. No entanto, a existência de tópicos como a homossexualidade, a sexualidade infantil, relações extraconjugais, violência doméstica, entre outros, justifica o facto de não ter passado pelo crivo da polícia política. Contudo, ao contrário do que se verifica nas obras de Maria Teresa Horta e de Natália Correia, não parece haver qualquer intento político.

Referências

GLÓRIA, Maria da, cop. 2021, A Magrizela, Lisboa, edição de autor, ed. fac-símile da edição de 1962.
PEDROSA, Ana Bárbara Martins, 2017, Escritoras portuguesas e Estado Novo: as obras que a ditadura tentou apagar da vida pública, Tese de Doutoramento em Ciências Humanas, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina.
PEDROSA, Ana Bárbara, 2019, «Do zeitgeist às prateleiras – as obras das autoras portuguesas censuradas», in Anuário de Literatura, n.º 2, vol. 24, Florianópolis, pp. 116-134.