Carmen de Figueiredo
Carmen de Figueiredo é pseudónimo de Carmelinda Niolet Moura de Figueiredo. Os registos da PIDE na Torre do Tombo não incluem uma ficha sua, apesar do mediatismo de que foi alvo no período em que publicou. A sua produção literária foi extensa: quinze romances, três livros de contos, uma novela e inúmeros contos publicados na imprensa portuguesa. Duas das suas obras foram censuradas pela PIDE: Famintos (1950) e Vinte Anos de Manicómio! (195-). Em 1954, venceu o prémio literário Ricardo Malheiros com a obra Criminosa. Apesar de este prémio ter sido atribuído a muitos escritores conceituados – Vitorino Nemésio, Agustina Bessa-Luís, Lídia Jorge, entre outros –, Carmen de Figueiredo e a sua obra passaram despercebidas no panorama da literatura portuguesa.
«Assim, começou de ser mais ríspido, autoritário, violento em demasiado, quebrando em ímpetos quase ferozes, […] desejava a sua filha mais pura que as estrelas, tinha de reconhecer que o sangue do seu sangue era um produto adulterado, todo borbulhante
de perigosas taras.»
(FIGUEIREDO, 195-, p. 69)
A censura da obra
No dia 30 de janeiro de 1952 é divulgado o relatório que ditou a proibição da obra, do qual destacamos um excerto:
«Parece-me condenável este romance pelos trechos (por vezes páginas inteiras) de realismo tão cru e descrições de tal basévia e lubricidade que custa a crer terem sido escritos por uma mulher.»
(AZEVEDO, 1997, p. 108)
O motivo da censura terá sido o realismo e a crueza com que Carmen de Figueiredo descreve as cenas íntimas e sexuais.
Referências
AZEVEDO, Cândido de, 1997, Mutiladas e Proibidas. Para a história da censura literária em Portugal nos tempos do Estado Novo, Porto, Caminho.
Direção Regional de Cultura do Centro, s.d., «As mulheres na cultura e na salvaguarda do património imaterial da região centro».
FIGUEIREDO, Carmen de, cop. 2021, Vinte Anos de Manicómio!, Lisboa, Imprensa Literária Universal, fac-símile da 1.ª ed. [195-].
PEDROSA, Ana Bárbara Martins, 2017, Escritoras portuguesas e Estado Novo: as obras que a ditadura tentou apagar da vida pública, Tese de Doutoramento em Ciências Humanas, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina.
Obras de Carmen de Figueiredo no Catálogo Coletivo de Bibliotecas da Madeira
[19–]
Biblioteca Municipal do Funchal
[1952]
Arquivo e Biblioteca da Madeira
(ed. fac-símile)
[1953]
Biblioteca Municipal do Funchal
1975
Biblioteca Municipal da Calheta
Recursos Adicionais
“Famintos” de Carmen Figueiredo
Programa da Antena 1 Uma Noite em Forma de Assim
Entrevista a Carmen de Figueiredo
«Confissões duma escritora: A romancista Carmen de Figueiredo fala da sua obra e das suas tendências», in Diário de Lisboa, 10.12.1953