Século XIX

A literatura para crianças em Portugal tem início mais evidente a partir do século XIX, ainda muito associada à sua função educativa e moralizadora. A partir da década de 70 desse século, figuras de referência na literatura portuguesa, como Eça de Queirós e Guerra Junqueiro, refletem sobre este género literário e produzem também textos para a infância. Junqueiro foi responsável pela adaptação de muitos contos dos irmãos Grimm na obra Contos para a Infância (1877).

Eça de Queirós, em Cartas de Inglaterra, escreve o que se considera a primeira crítica sobre literatura infantil portuguesa, traçando o cenário no nosso país em comparação com outros países europeus: «A Bélgica, a Holanda, a Alemanha, prodigalizam esses livros para crianças; na Dinamarca, na Suécia, eles são uma glória da literatura e uma das riquezas do mercado. Em Portugal nada.»[1]

Século XX

Estado Novo

Durante o Estado Novo a literatura para a infância tinha um caráter nacionalista, de intuito moralizante. Destaca-se, nesse período, Adolfo Simões Müller, jornalista e escritor com afeiçoamento ao regime, mas cuja qualidade literária fê-lo receber o Grande Prémio de Literatura Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1982. Entre muitas outras obras, foi autor de biografias históricas para a coleção “Gente Grande para Gente Pequena”.

Sophia de Mello Breyner Andresen, cuja obra para a infância foi publicada maioritariamente nas décadas de 50 e 60 do século XX, conseguiu desviar-se dos preceitos nacionalistas impostos pelo regime. As suas histórias encantam ainda hoje os jovens leitores.

A partir de 1974

A Unesco proclamou o ano de 1974 como o Ano Internacional do Livro Infantil e o ano de 1979 como o Ano Internacional da Criança, fazendo com que as atenções se voltassem para os temas da criança, do livro e da leitura.

Novos rumos da literatura

Com o final do regime de ditadura em Portugal, consolidou-se o trabalho de autores que já tinham iniciado a sua atividade literária, como Matilde Rosa Araújo, Ilse Losa, Maria Alberta Menéres, António Torrado, Luísa Dacosta ou Luísa Ducla Soares. Surgem também novos nomes que vieram a ter um grande impacto no panorama da literatura para crianças e jovens, como Alice Vieira, Álvaro Magalhães, António Mota, José Jorge Letria, Ana Saldanha. Nesse período são publicadas também várias coleções de aventura e mistério, de que é referência Uma Aventura (1982), de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

 

Escrita para a infância na Madeira

Durante a 1.ª República publicaram-se compilações poéticas dirigidas aos mais novos, mas a produção literária foi escassa. Destaca-se nesse período Maria Francisca Teresa, pseudónimo de Laura Veridiano de Castro, que publicou diversas obras para a infância, entre as quais Em casa da Avó na Ilha da Madeira (1922), um interessante relato do Funchal de 1900.
Décadas mais tarde, em 1964, Maria do Carmo Rodrigues publicou Dona Trabucha, a Costureira Bucha, o seu primeiro livro, ao qual se seguiram muitos outros. Entre 1969 e 1971 dirigiu o periódico infantil A Canoa, considerado uma referência de qualidade a nível nacional.
Com a mudança do regime político verificou-se um aumento da produção de literatura para crianças na Madeira. Até ao final do século XX, para além de Maria do Carmo Rodrigues, vários escritores deram o seu contributo. Bernardete Falcão, Irene Lucília, Octaviano Correia, Maria Aurora, Marcela Costa e Ana Teresa Pereira, são alguns dos nomes que marcaram o universo da escrita para a infância e que enriquecem o nosso acervo.

Literatura para a Infância

Cronologia com algumas das obras mais marcantes da literatura para a infância em Portugal e no mundo.

[1] QUEIRÓS, Eça de, 1982, Crónicas de Londres; Cartas de Inglaterra, 5.ª ed., Lisboa, Círculo de Leitores, p. 193.