Maria Archer (1899-1982)

Maria Emília Archer Eyrolles Baltasar Moreira nasceu em Lisboa, em 1899. Iniciou a sua produção literária com colaborações em periódicos (Acção, Correio do Sul, Diário de Lisboa, Eva, Fradique, Humanidade, Ilustração, O Mundo Português, Seara Nova, entre muitos outros). Em 1944 publicou Ela É Apenas Mulher, a primeira de um conjunto de cerca de trinta obras.
Em dez anos, dois dos seus livros foram censurados e apreendidos: Ida e volta duma caixa de cigarros (1938) e Casa Sem Pão (1947). Neste período atingiu o auge da sua produção literária, tornando-se um marco na literatura feminina do século XX, por retratar de forma audaciosa a mulher portuguesa e os seus problemas familiares e sociais.
Após a apreensão dos seus livros, partiu para o Brasil, em 1955, e esteve longe do seu país durante mais de vinte anos. No Brasil, escreveu para a imprensa e redigiu publicidade para a rádio. Regressou a Portugal após o 25 de Abril e passou a residir num lar, onde permaneceu até ao fim da sua vida.

Trata-se de um romance cuja ação decorre na primeira metade do século XX e que acompanha duas famílias da burguesia. Pelo seu caráter naturalista, expõe diversos aspetos do comportamento humano.

«[Gina] Tomara os modos das solteironas desembaraçadas, um tanto máscula, sempre vestida de tailleur, e agora foge dos homens e é muito dada às cálidas amizades femininas.»

(ARCHER, p. 291)

A censura da obra

Casa Sem Pão foi censurada pela PIDE em 1947, vindo a ser autorizada, embora com cortes, doze anos mais tarde, em 1969. O processo foi complexo e o livro voltou várias vezes às mãos dos censores. A obra de Archer abalava as estruturas sociais que a ditadura tentava impor e rejeitava o padrão de dependência e subserviência femininas, o que facilmente garantia a censura pela PIDE.