Sobre o Livro Impresso

Tipografia é o «[…] modo de imprimir, por meio de tipos, pequenos paralelepípedos que têm, numa das extremidades, uma letra em relevo e que se reúne às outras para formar palavras, linhas e páginas que posteriormente são impressas. […]»[1].

A invenção da imprensa foi um dos mais importantes avanços tecnológicos da História. Gutenberg foi, e continua a ser, associado inevitavelmente a esta inovação. No entanto, não está determinado que terá sido ele a inventar o processo. A Gutenberg é atribuída claramente a invenção do prelo bipaginal, que permitia a impressão simultânea de várias páginas pela única pressão de um plano rígido, e que passou a ser utilizado por todos os impressores.

Com a impressão da Bíblia, por Gutenberg, em 1455, também conhecida por Bíblia das 42 linhas – da qual se conhecem menos de 50 exemplares em todo o mundo, um deles na Biblioteca Nacional de Portugal –, deu-se início à produção em série do livro impresso moderno.

Pode dizer-se que em meados do século XV ocorreu

«uma feliz coincidência: a necessidade imperiosa e premente de uma produção de textos que os scriptoria monásticos e mesmo os copistas leigos já não conseguiam satisfazer, destinada a uma clientela cada vez maior e mais exigente; e a invenção de um processo que vai trazer, essencialmente, três vantagens nunca antes imaginadas: um mais baixo custo, uma maior rapidez na produção e, sobretudo, a fixação de um texto.»[2]

O Incunábulo

Em termos gráficos, a apresentação do texto impresso mantinha-se muito próxima dos textos manuscritos. A este tipo de obras designa-se por incunábulo, palavra com origem no latim (in)cunabulum (no berço), designando um

«livro dos primórdios da tipografia, […] impresso num período que se convencionou mediar entre 1450 e 1500. […] Típica do incunábulo é a ausência de portada, estando a identificação do texto e da impressão acantonadas no final do livro, no cólofon. O incunábulo, apesar de impresso, tem ainda as letras capitulares manuscritas, está foliado (numerado por fólios) e não paginado, é de formato grande, tem a mancha gráfica compacta, com frequente recurso a abreviaturas, não tem o texto articulado em subdivisões (capítulos, partes…) e apresenta imperfeições técnicas relativas à tinta e ao papel.»[3]

A Nova Identidade do Livro

A partir do século XVI, o livro começa a adquirir a sua identidade. Produziram-se novos tipos e implementou-se uma página de título, mas os dados relativos à impressão ainda eram colhidos do cólofon, onde se mencionava o lugar, a oficina e a data.

«A paginação, precedida pela foliação, foi uma novidade introduzida pelo famoso Aldo Manuzio [impressor veneziano] que veio facilitar sobremaneira o manuseio do livro. […] Voltando ainda ao mesmo impressor, será de toda a justiça referir que a ele se deve igualmente o formato in-oitavo, o comummente designado livro de bolso que muitos pensam ser uma invenção do nosso tempo. E a criação de um tipo cursivo, o itálico ou aldino, que vai conferir novo ritmo à composição tipográfica, permitindo distinguir as citações dos clássicos, também foi invenção sua.»[4]

Um dos desafios técnicos encontrados na época consistia na inserção de gravuras no texto, fazendo acompanhá-lo, por exemplo, de desenhos de instrumentos cirúrgicos, plantas ou diagramas matemáticos. Também a composição musical apresentava dificuldades específicas: era necessário imprimir as linhas da pauta e os símbolos das notas deveriam assentar rigorosamente sobre elas.
Tendo em conta todos os aspetos mencionados, a evolução do livro impresso foi gradual e irregular. Para o seu estudo, convencionou-se designar «livro antigo todo aquele que foi impresso desde a invenção da imprensa até ao início do século XIX»[5].

«Na transição entre o século XVIII e o XIX, ainda no contexto da Revolução Industrial, o aparecimento da litografia e a invenção da máquina plana, que produzia a folha de papel em contínuo, […] efetuam uma rutura no processo de fabrico do livro, tal como acontecera durante quatro séculos e meio.»[6]

O Livro Impresso em Portugal

Em Portugal, recorrendo à nova “tecnologia”, foi impresso o Pentateuco (os cinco primeiros livros do Velho Testamento) em 1487. Trata-se de uma obra em hebraico, impressa por Samuel Gacon, impressor algarvio de origem judaica.

O Tratado de Confissom, impresso em Chaves, com data de 1489, é considerado o primeiro livro impresso em língua portuguesa que se conhece. A obra foi produzida por um impresssor não identificado, pois ao único exemplar existente, o da Biblioteca Nacional de Portugal, falta a página de rosto.

  • [1] PERICÃO, 2019, «O advento da tipografia e a nova circulação da informação», p. 25.

    [2] PERICÃO, 2019, «O advento da tipografia e a nova circulação da informação», p. 30.

    [3] MARQUILHAS, 2009, «Incunábulo».

    [4] PERICÃO, 2019, «O advento da tipografia e a nova circulação da informação», p. 33.

    [5] FARIA, PERICÃO, 2008, Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, p. 764.

    [6] GUERREIRO, BORBINHA, 2015, «O livro antigo na era digital», p. 5.

Referências

FARIA, Maria Isabel Ribeiro de, PERICÃO, Maria da Graça, 2008, Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, Coimbra, Almedina.

GUERREIRO, BORBINHA, 2015, «O livro antigo na era digital», in Atas do congresso nacional de bibliotecários, arquivistas e documentalistas, disponível em http://https://www.bad.pt/publicacoes/index.php/congressosbad/article/view/1399/pdf_107, consultado em 2020-04-10.

MARQUILHAS, Rita, 2009, «Incunábulo», in E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia, disponível em https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/incunabulo/, consultado em 2020-04-10.

MARTINS, José V. de Pina, 1989, «De como identifiquei o “Tratado de Confissom”», in Revista ICALP, vol. 15, pp. 119-13.

PERICÃO, Maria da Graça, 2019, «O advento da tipografia e a nova circulação da informação», in Do manuscrito ao livro impresso, vol. 1, Aveiro, Imprensa da Universidade de Aveiro, Imprensa da Universidade de Coimbra.