Fernando Maximiliano escreveu um relato desta viagem que foi publicado como obra anónima: Reise-Skizzen: Sicilien. Lissabon. Madeira.
Posteriormente, a parte do seu diário relativa à Madeira, foi traduzida e editada em português em Memórias da minha vida.
Partindo de excertos dessa obra, complementados por documentos do acervo do Arquivo e Biblioteca da Madeira, acompanharemos a sua visita à ilha.

Chegada

4 de julho

«Por fim, a 4 de Julho, quando fui ao convés ao amanhecer, foi-me lançado um feitiço. Ante mim, sob o esplendor glorioso do sol tropical, no azul das ondas cintilantes, rodeada por brisas puras e balsâmicas, estendia-se uma grande ilha com acentuados penhascos de basalto purpúreo e as brilhantes verduras da Primavera – uma imagem de poder arrebatador que encheu de êxtase a alma emocionada.»  p. 18

 

A Ordem, 10 de julho de 1852.

A carapuça tradicional

«Considerando as peculiaridades da Madeira, devo dar o primeiro lugar […] à cobertura usada na cabeça, porque é a coisa mais notável que alguma vez contemplei no modo de vestir. É uma carapuça do tamanho da palma da mão, escarlate por dentro, azul.escura por fora, que sobe até uma longa ponta comprida como um pára-raios e que assenta no meio da cabeça como um funil virado ao contrário.» p. 22

Homem com traje regional segurando um cordofone
BPI-ARM/286.

Mulher com traje regional
BPI-ARM/313-10.

Dia de aniversário

6 de julho

No dia 6 Maximiliano completou 20 anos. Visitou algumas quintas, foi até ao Monte, passou pelo Santo da Serra e terminou o dia a jantar em Santa Cruz.

“De manhã muito cedo, fugi com um grupo de amigos do navio, de modo a evitar todas as cerimónias e a passar o dia como viajante à moda da ilha.» p. 31

Os carros de cesto

«Em trenós […] equipados com bancos de madeira, disparámos sobre as ruas pavimentadas com basalto, desde as alturas até à cidade, em baixo. O trenó voa colina abaixo impulsionado pelo seu próprio peso, e é guiado e tem a sua velocidade verificada por meio de cordas seguradas por homens que correm atrás dele de ambos os lados. A diversão é muito engraçada, como é tudo o que transporta um homem pesado a uma velocidade que ultrapassa os limites habituais, mas existe nele algum perigo, na medida em que uma pedra solta é suficiente para dar ao trenó um rumo errado e colidir contra qualquer objecto próximo.» p. 43

Carros de cesto no acervo iconográfico do Arquivo e Biblioteca da Madeira.

Partida

8 de julho

«A sua curta demora nesta ilha, ficou assinalada pela maneira generosa como contribuiu para a construção da Ponte Monumental e pela valiosa dádiva que fêz ao Asilo de Mendicidade e Orfãos do Funchal.»

SILVA, Fernando Augusto da, Pe., MENEZES, Carlos Azevedo de, 1989, Elucidário madeirense, Fac-símile da edição de 1946, Funchal, SRTC, DRAC. p. 346.

A Ordem, 17 de julho de 1852.

Madeira. Funchal. Ponte Monumental e Reid’s Palace Hotel.
BPI-ARM/224.

Um amor com final trágico

Maximiliano de Habsburgo esteve comprometido com a princesa D. Maria Amélia. O noivado não chegou a ser oficializado, pois Maria Amélia morreu prematuramente em 1853.
A princesa era filha do imperador D. Pedro e da imperatriz D. Amélia Leuchtenberg de Bragança. No início de 1852, o Arquiduque Maximiliano, na altura a servir na marinha austríaca, fez escala em Portugal e visitou Maria Amélia e a mãe no Palácio das Janelas Verdes, onde viviam. A mãe de Maximiliano e a avó materna de Maria Amélia pertenciam ambas à alemã Casa de Wittelsbach.
Foi durante essa visita que se apaixonaram e decidiram o noivado.

Maria Amélia de Bragança
Museu Imperial do Brasil, Domínio Público, via Wikimedia Commons.

No mesmo ano, «a princesa foi atacada por febres intermitentes, seguida de escarlatina e de laringite. Pouco depois contraiu tuberculose e partiu para a ilha da Madeira [em agosto], instalando-se na Quinta Lambert, acompanhada pela mãe e pelo médico Francisco António Barral».

A Ordem, 31 de agosto de 1852.

A Ordem, 4 de setembro de 1852.

«A 4 de fevereiro de 1853, cinco meses depois de se instalar no Funchal, sucumbiu à enfermidade». (VIEIRA, 2011)

A Ordem, 5 de fevereiro de 1853.

«A imperatriz D. Maria Amélia, ficando de luto pela filha, não quis deixar de agradecer aos madeirenses a sua hospitalidade, pelo que procurou criar um hospício para que os doentes tuberculosos aí pudessem ser tratados gratuitamente». (VIEIRA, 2011)

Leitura complementar

Casamento

Maximiliano e Carlota, 1857
Fotógrafo não identificado, Domínio Público, via Wikimedia Commons.

Casou em 1857 com a princesa Maria Carlota, filha de Leopoldo I, rei da Bélgica.

Leitura complementar

VIEIRA, Ismael Cerqueira, 2011, «O pioneirismo da Madeira no tratamento da tuberculose em meados do século XIX», in Ler História [Online], 61, disponível em http://journals.openedition.org/lerhistoria/1603, consultado em 2022-03-09.