Aspetos do Natal na Madeira
NOITE DO MERCADO
A noite do mercado (dia 23 de dezembro) é um acontecimento que reúne milhares de pessoas na antevéspera de Natal.
Além da venda de legumes, frutas e flores, quase todos procuram as tradicionais sandes de carne de vinho e alhos.
Nos últimos anos, a afluência ao mercado tem vindo a aumentar e os cânticos de Natal, organizados por um grupo de amigos há mais de trinta anos, são um dos pontos altos das festividades.
Mas a ida ao mercado não é uma tradição recente. Conhecem-se registos desde o início do século XIX que dão conta da azáfama que se vivia na praça na manhã do dia 24 de dezembro, depois da última missa do parto na Sé, com a procura das flores, das frutas, dos legumes e dos ornamentos para a lapinha.
Os grupos juntavam-se no mercado e nos arredores, entoando canções e despiques antes do regresso a casa para ultimar os preparativos para a noite de Natal.
PASSAGEM DE ANO
O Fim do Ano na ilha da Madeira, inscrito no livro do Guiness, é um evento com décadas de história que atrai centenas de locais e turistas.
A noite de São Silvestre é considerada «um dos mais belos cartazes turísticos da ilha», segundo podemos ler nos Boletins da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, em 1953.
O arquivo da Delegação de Turismo da Madeira é outra fonte indispensável para explorar os eventos associados às festas do fim de ano no século XX. Na coleção fotográfica do Arquivo Regional da Madeira é possível complementar a informação e encontrar imagens da década de 30 e 40 que mostram o espetáculo de fogo-de-artifício e a presença de navios no porto do Funchal.
PRESÉPIO DE ESCADINHA
Na Madeira podemos encontrar dois tipos de lapinha. As escadinhas são o costume mais antigo, segundo o Padre Eduardo Nunes Pereira, nas “Ilhas de Zarco”.
Os três ou mais degraus são encimados pelo Menino Jesus e adornados com pastores, fruta da época (peros, laranjas, castanhas, anonas, nozes) e o pão «merendeiro» ou «brindeiro» para as crianças. Algumas localidades colocam alegra-campo ou canas-de-açúcar ladeando os presépios.
As searas (alpista, grão, tremoço, lentilha ou trigo postos de molho na primeira missa do parto) são outro detalhe imprescindível a qualquer lapinha madeirense.
FERIADO DA 1.ª OITAVA
Após a consoada, as celebrações de Natal prosseguem com as oitavas, um costume que segue a tradição católica de prolongar por oito dias a celebração de uma festa importante. Nestas semanas, segundo nos diz o Padre Juvenal Pita Ferreira, os afilhados visitam os padrinhos oferecendo galinhas e recebendo em troca dinheiro, roupas ou bolo de mel. São dias dedicados à família, por essa razão, o comércio encerrava e no campo ninguém trabalhava. Depois das comemorações do Fim do Ano a «Festa» prolongava-se com as «oitavas de Jesus» (primeiro dia do ano) e as «oitavas dos Reis» (6 de Janeiro), culminando no dia de Santo Amaro (15 de Janeiro) com a tradicional «limpeza dos armários».
Em 2002,com a intenção de perpetuar os nossos costumes, foi instituído o feriado regional da «primeira oitava» assinalado a 26 de Dezembro.
No ambiente urbano, este dia reúne famílias e amigos para uma ida ao Circo e ao parque de diversões circundante.
MISSAS DO PARTO
São 9 missas (novena) celebradas desde o dia 16 de dezembro até à véspera de Natal. Os fiéis reúnem-se de madrugada e acompanham a eucaristia dedicada à Virgem. Ouvem-se os foguetes, entoam-se cânticos e no final há momentos de partilha no adro da igreja, com música, votos de Boas Festas, e a distribuição do cacau, das broas e de outras iguarias da época.
Estas novenas têm origem na solenidade da “Expetação do Parto da Santíssima Virgem”, assinalada a partir de 18 de Dezembro.
Na Madeira conhecem-se referências à celebração das missas do parto a partir do século XVIII.